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E eu, não mentirei, mantive-o pela noite
quarta-feira, 28 de julho de 2010 @ 10:34
A ardência na garganta surgiu fazendo com que meus olhos despejassem água salgada, aquela que correu em encontro aos meus lábios secos e foi lentamente absorvida.
Lembraram-me do canto dos pássaros apressados, eles que mancharam meu céu e se esconderam no fim da tarde sangrenta. O sol grandioso esmagando o patético horizonte. Consegue visualizar o tão glorioso fim?
Senti a nostalgia tomar conta do corpo fraco e da mente fechada. Qual seria a palavra certa? Talvez saudades. Talvez o tão tolo arrependimento. Aquele que transformou noites em longos anos – o suor pingando da testa do acordado garoto às quatro e meia da manhã.
Os longos cílios se fecharam em uma expressão que te abana o adeus, despedindo as memórias lambidas pelo oceano.
Perdi meu tempo com apostas... Talvez dois anos e meio afogada em sentimentos nada nobres, tornando minha carne exposta livre ao toque de qualquer um com sorte nos jogos.
Já tinha esquecido de apreciar o reflexo do espelho, o orgulho costumava inflar e meus lábios desenhados eram abertos em um sorriso torto e agradável. A cidade roubou a dignidade e a sobriedade da minha vida, cruzando becos assassinos e silenciosos. Marcando meus olhos – sem volta.
Lá estava eu, junto a ele. Meu menino. Tão jovem e desentendido, que seus pequenos olhos cor de amêndoa obrigavam você á sorrir. O último homem que me abraçou com sentimento, tornando o dia acabado em um início de tarde longe da fumaça de meus cigarros.
“Aonde será que eu poderei vê-la novamente?” A pergunta ecoando no quarto escuro, enquanto ele brincava carinhosamente com seus dedos em meu corpo nu.
Eu nunca tive chance de responder a sua pergunta, porque o calor de minha língua furiosa o deu certezas nunca perguntadas antes.
E lá estávamos juntos. Pra sempre? O fim é glorioso demais para ser evitado e maquiado. Que venha! Enquanto isso a música de nossos gemidos pode ser abafada pelas cobertas que nos mantinham afastados por pequenos momentos. O seco se tornando úmido, o chão tornando o meio intocável... A dor próxima e real.
E aquilo que senti quando meu coração tentou cavar meu peito não tinha nome, era um completo estranho tomando conta da minha vida e navegando o meu navio por cima das ondas violentas. Era puro e ingrato, com cheiro de limão e gosto daquela paisagem esverdeada. O mantive perto de mim aquela noite, pois parecia que algo se enchia de prazer quando por perto ele permanecia.
Quando por perto, finalmente, eu existia.