Comentários geram sorrisos.
O Surgimento (Segunda parte)
sexta-feira, 27 de agosto de 2010 @ 19:48
Você irá ler esta linha, este parágrafo, este texto e negará que isto é para ti. Mas você se enganará, você se enganou, você está errado: isso aqui é inegavelmente seu e para você. A noite suspirava levemente, dançando entre as pessoas que andavam acompanhadas pelas ruas de São Paulo. Os prédios eram os mesmos. O asfalto continuava desgastado. As luzes apagadas dos prédios escondiam e calavam amantes apaixonados, que se afogavam no silêncio dentre os cobertores sujos de paixão. As luzes acesas guardavam e mantinham a insônia daqueles com a cabeça pesada demais, com pensamentos em excesso para perder tempo dormindo. O dia corria, a tarde passava, a noite sentia.
E lá estava eu, andando por qualquer lugar que a cidade quisesse me levar. Meus olhos percorriam em todo movimento, captando sorrisos verdadeiros, têmporas cansadas e mãos esbarrando uma na outra, pedindo - e quase gritando - por um contato verdadeiro. Mas aquela noite era uma exceção. Aquela noite era um tanto mais brilhosa do que todas as outras. A lua estava mais cheia, mais próxima, menos só. O que surgia dentro de mim fazia com que eu fosse a prioridade. Eu não precisava sugar e observar os outros para sentir, para querer, para ansiar, para criar. Eu tinha a mais pura e fervente fonte de inspiração: meu romance.
O que me faria dançar secretamente por debaixo daquele caos urbano. Eu abandonei tudo que sempre foi meu e, nesse momento de silêncio e vazio interno, me preenchi daquilo que você me proporcionou. A quentura ardia por entre veias que eu nunca senti, que eu nunca descobri, que nunca realmente existiram, mas que palpitavam. Palpitavam anunciando o nascimento e o crescer de algo novo. Algo sem culpa, sem poeira, sem qualquer-coisa-rude-egoísta-e-infeliz-demais-pra-ser-amor.
Eu me relaciono com você. Você se relaciona comigo. E o romance é o nosso amante, aquele que tira o tédio gelado do domingos de manhã, aquele que nunca irá cobrar nada além do que nós desejamos; o romance é o amante que nos remexe no meio da madrugada, fazendo com que nossos corpos se choquem uma última vez antes que a consciência decida ir embora totalmente e o sono se aconchegue. O romance é a força que nos une. É mais do que nós temos, é mais do que nós enxergamos: é a nossa ambição. É aquilo que eu vejo em você ás 3:27 da madrugada, quando seu cabelo está bagunçado, sujo, suas olheiras fundas e seu rosto cansado. É aquilo que eu vejo em você nesses momentos só nossos, onde o lado obscuro da sua lua vira e sorri pra mim.