As horas transformavam o céu, diminuíam o trânsito, acalmavam o interior das casas, apagavam as luzes, mudavam o clima, fechavam os olhos; mas não passavam por mim. O relógio podia fazer seu caminho de sempre, acompanhando o mundo no seu frágil e contínuo equilíbrio, mas eu permanecia do mesmo jeito.
Procurei as razões para explicar o que estava tornando o tempo irrelevante, miúdo, pouco caso, indiferente - olhei as paredes vazias e nada, senti o cheiro vindo da cozinha e nada, pisei no chão gelado da sala e nada, engoli minha saliva e nada, apertei minhas mãos e nada, mordisquei meus lábios e nada, - mas tudo a minha volta não parecia ser a resposta. Nada parecia tão significativo e grandioso a ponto de modificar minha rotina, minha falta de sanidade, meus sonhos, a montanha russa inconstante do meu estômago.
Nunca acreditei em desculpas: não me importo se o seu horóscopo diz o quanto seu dia será horrível, nem que as estrelas tenham dado a você sinais de uma tristeza profunda, não confio no quanto você murmura que nada deu certo, por tanto, nada dará certo. Nada disso determina o que está acontecendo, o que aconteceu e o que acontecerá. Eu acredito no desconhecido, naquilo que suspira ás 2:14 da madrugada e confessa não saber de nada. Eu acredito no garoto que me diz temer muito, mas não deixa de desejar, querer, ansiar por. Eu acredito no bonito das coisas.
Procurei razões e as encontrei em você. O tempo, desajeitado e irônico, já não fazia efeito porque você existia. Não existia apenas para o mundo - como um pontinho minúsculo, esperando em filas de mercados, entrando e saindo do colégio, andando nas ruas vazias e sentando nos metrôs ao lado de senhoras, - você existia dentro de mim. E assim seria, independente do destino inexistente, dos dias chuvosos, dos sóis cruéis, do medo muito nosso, muito humano, muito fincado na nossa alma. Independente do universo, você e eu existimos um dentro do outro.
(PS: Trilha sonora recomendada: http://youtu.be/4NZdggNUvq0).