A garota de cabelos escuros corria sob um céu avermelhado. As árvores eram tantas e a garota era tão veloz, que ao seu redor surgiram inacabáveis e enormes manchas escuras, como se alguém houvesse derramado café numa folha de papel. Corria sem saber aonde chegaria, mas com o destino guardado dentro de uma pequena bolsa em suas costas. Corria sem saber o que fazer quando sentisse que deveria parar, mas com a certeza de que alguma coisa deveria ser feita. Corria sem saber de muito, mas Sol era dessa forma: apesar de estar cheia de dúvidas em relação ao concreto e a realização das coisas, ela sabia o que sentia e que esses sentimentos não poderiam ser enterrados, deixados de lado, guardados no fundo do baú, no canto da prateleira. Sol tinha um lema e o cumpria todos os segundos da vida dela. "Não negarei o que sinto, não negarei o que navega sem bússola por dentro de mim. De todos os dias a partir deste, meus sentimentos serão livres."
De repente o pequeno par de pés começou a diminuir o ritmo e a respiração da garota explodiu, completamente descompassada e exausta. "Por um minuto - eu juro! - pude escutar os pássaros se calando por estarem assustados com o barulho que fiz."
Sol possuía cabelos negros e longos, feições delicadas e enormes olhos cor de mel. Sua pele era tão branca quanto qualquer folha de papel e sua altura mediana. Ela era radiante, assim como seu nome introduz.
Lá estava a menina, no meio de uma enorme floresta que havia dormido com a chuva. Um tronco de árvore cortado se encontrava a sua frente e ela logo sentou, tirando a bolsa das costas e a colocando no colo. Quando a abriu, colocou as mãos em seu destino: um caderno grosso e uma caneta.
"Testando: 1, 2, 3. Estão me ouvindo? 1, 2, 3.
Sempre vi as pessoas testando microfones dessa forma. Um jeito prático de saber se ele está funcionando direito ou não. E não vi formas para começar meu destino. Por que não, então, como se eu estivesse falando muito alto para uma grandiosa multidão em um microfone? Pois irei começar a revelar um dos meus segredos: dentro de mim vive uma multidão. Acompanha-me todos os dias da minha vida, em todos os lugares que fui e vou. E esta vasta multidão, que agora escuta silenciosamente a minha voz ressonar, são meus sentimentos. Com "isto" - ou como gosto de chamar: meu destino, - pretendo fazer com que a multidão dance e cante e finalmente voe.
Meu destino é escrito por mim, Sol - ou como vocês preferirem me chamar. Mas peço a vocês, multidão dentro de mim ou expectadores fora de mim: me escutem. Meu coração fala alto, mas nunca parece ser escutado.
Á vocês, então, dedico estas folhas."